sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Reumo do Canto VIII


CANTO VIII Após a visita, o Catual regressa a terra. Por ordem do rei da Índia (estâncias 45 a 46) os Arúspices fazem sacrifícios, porque adivinham eterno cativeiro e destruição da gente indiana pelos portugueses. Entretanto, Baco resolve agir contra os portugueses. Aparece em sonhos a um sacerdote árabe (estâncias 47 a 50 ) incitando-o a opor-se aos portugueses. Quando acorda, o sacerdote maometano instiga os outros a revoltarem-se contra Vasco da Gama. Vasco da Gama procura entender-se com o Samorim, que, após violenta discussão, ordena a Vasco da Gama que regresse à frota, mostrando-lhe o desejo de trocar fazendas europeias por especiarias orientais. Subornado pelos muçulmanos, o Catual impede o cumprimento das ordens do Samorim e pede a Vasco da Gama que mande aproximar a frota para embarcar, com o intuito de a destruir. Vasco da Gama, astuto e desconfiado, não aceita a proposta, sendo preso pelo Catual.Vasco da Gama é feito prisioneiro. Negocia com o catual sua liberdade, em troca de mercadorias européias.
Ainda sobre os esforços constantes de Baco, seria de todo pertinente fazer um pequeno aparte para apresentar a opinião de Hernâni Cidade, para quem esta divindade mitológica representava o orgulho ferido de muçulmanos e italianos. De facto, estes seriam os mais prejudicados com a viagem em causa, pois estava em risco o monopólio (que desde longo tempo já controlavam) das lucrativas especiarias Orientais. O esquema era simples e altamente rentável: os primeiros transportavam as mercadorias em caravanas desde o Oriente até ao Mediterrâneo; os segundos, em particular genoveses e venezianos, redistribuíam esses produtos pela Europa. Tudo isso, porém, estava prestes a mudar com a criação da Rota do Cabo.
Toda esta situação vai levar o poeta, nas últimas quatro estrofes do Canto, a reflectir sobre o poder do ouro. Um poder que torna as gentes cobiçosas, que “mil vezes tiranos torna os Reis”, e que “faz tredores e falsos os amigos”. No Canto VIII, na estrofe 11, ao descrever D.Afonso, Paulo da Gama diz “Este é aquele zeloso a quem Deus ama,/Com cujo braço o mouro imigo doma”, o que nos dá a entender que Deus seja a favor dos católicos portugueses, pois os ama, e seja contra os mouros, pois há a utilização do adjetivo “imigos”. Temos aí mais um exemplo da crença na predileção das entidades cristãs e pagãs pelos católicos, forte ideologia religiosa de Camões.




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Analise da obra: Auto da Barca do Inferno

O "Auto da Barca do Inferno", ao que tudo indica, foi apresentado pela primeira vez em 1517 na câmara da rainha D. Maria de Castela, que estava enferma. Esse Auto, classificado pelo próprio autor como um "auto de moralidade", tem como cenário um porto imaginário, onde estão ancoradas duas barcas: uma como destino o paraíso, tem como comandante um anjo; a outra, com destino ao inferno, tem como comandante o diabo, que traz consigo um companheiro. Com relação a tempo, pode-se dizer que é psicológico, uma vez que todos os personagens estão mortos, perdendo-se assim a noção do tempo.
Todas as almas, assim que se desprendem dos corpos, são obrigadas a passar por esse lugar para serem julgadas. Dependendo dos atos cometidos em vida, elas são condenadas à Barca da Glorificação ou à do Inferno. Tanto o anjo quanto o diabo podem acusar as almas, mas somente o anjo tem o poder da absolvição. Quanto ao estilo, pode-se dizer todo Auto é escrito em tom coloquial, ou seja, a linguagem aproxima-se a da fala, revelando assim a condição social das personagens, e todos o versos são Redondilhas maiores, sete sílabas poéticas.
Ao longo do Auto pode se encontrar períodos em que são quebrados tanto o esquema de rimas quanto o métrico. Como Gil Vicente sempre procurou manter um padrão constante em suas obras, atribui-se esse fato a possíveis falhas de impressão.
Em relação a estrutura pode-se dizer que o Auto possui um único ato, dividido em cenas, nas quais predominam os diálogos entre as almas, que estão sendo julgadas, com o anjo e com o diabo.
Os personagens do Auto, com exceção do anjo de do diabo, são representantes típicos da sociedade da época. Eles raramente aparecem identificados pelo nome, pois são designados pela ocupação social que exercem. Como exemplo pode-se cita o onzeneiro, o fidalgo, sapateiro etc.